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🎥 Cinema: A Arte que Sonha o Mundo - Um espaço para pensar o cinema como linguagem, memória e utopia

  • carlospessegatti
  • há 1 dia
  • 7 min de leitura
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"Cinema: A Arte que Sonha o Mundo" é um novo quadro dedicado aos grandes mestres da sétima arte, suas obras marcantes, seus estilos únicos e o poder das imagens em movimento de transformar a forma como enxergamos o real. Aqui, não se trata apenas de crítica cinematográfica, mas de teorização poética e filosófica sobre o cinema — como expressão sensível do tempo, da política, do desejo e da história.


A cada edição, mergulharemos em:

  • Obras cults, clássicas e antológicas;

  • Filmografias autorais de diretores visionários;

  • Temas recorrentes, estéticas singulares e invenções narrativas;

  • Interseções entre cinema, filosofia, política, literatura e música.


Porque o cinema não apenas retrata o mundo — ele o reinventa, sonha e o reconstrói.





E hoje iniciaremos esta série com o grande diretor Wim Wenders


Wim Wenders – O Cinema como Caminho: Entre o Real e o Imaginário

A obra de um cineasta nômade que fez da imagem um instrumento de pensamento, silêncio e beleza


Wim Wenders é uma das vozes mais autênticas do cinema europeu contemporâneo. Nascido em Düsseldorf, Alemanha, em 14 de agosto de 1945, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, Wenders cresceu em um país dilacerado pela culpa e pela reconstrução. Esse trauma histórico ecoa como pano de fundo em boa parte de sua filmografia, onde o deslocamento, a busca por sentido e a melancolia da modernidade são temas recorrentes.


Formado em medicina e depois em filosofia, abandona ambos os cursos para se dedicar à pintura e, finalmente, ao cinema. Estuda na Hochschule für Fernsehen und Film München e se aproxima do movimento do Novo Cinema Alemão, ao lado de Werner Herzog, Rainer Werner Fassbinder e Volker Schlöndorff. Porém, seu olhar é mais contemplativo e lírico, marcado por longas jornadas, paisagens desoladas e personagens errantes.


Sua obra mescla ficção e documentário, modernidade e classicismo, tecnologia e espiritualidade. Ele é um cineasta da estrada, do olhar estrangeiro, do silêncio cheio de sentido. A seguir, uma análise de seus principais filmes:


🎥 1. Alice in den Städten (Alice nas Cidades, 1974)

Temas: Deslocamento, infância, linguagem, incomunicabilidadeO filme acompanha um jornalista alemão que, em meio a uma crise criativa, encontra uma menina abandonada nos EUA e passa a procurar a avó da criança na Alemanha. Essa espécie de road movie europeu é profundamente tocante, retratando a busca por identidade num mundo em transformação. É o primeiro de sua "Trilogia da Estrada", marcada por uma estética minimalista e introspectiva.


🎥 2. Falsche Bewegung (Movimento em Falso, 1975)

Temas: Viagem interior, existencialismo, impasse intelectualLivremente inspirado em Goethe, o filme acompanha Wilhelm, um jovem aspirante a escritor, em sua jornada por uma Alemanha desarticulada. O tom é mais filosófico, quase niilista. A paisagem atua como espelho das emoções. A linguagem é enxuta, carregada de silêncio e olhares — algo que se tornaria marca de Wenders.


🎥 3. Im Lauf der Zeit (No Decurso do Tempo, 1976)

Temas: Amizade, ruínas do cinema, decadência culturalDois homens atravessam a Alemanha numa caminhonete que conserta projetores de cinema. É um filme sobre o fim de uma era — a morte do cinema clássico — mas também sobre os afetos masculinos, o tempo e os rastros da história alemã. Um manifesto melancólico e ao mesmo tempo celebrativo da imagem em movimento.


🎥 4. Der amerikanische Freund (O Amigo Americano, 1977)

Temas: Traição, paranoia, identidadeInspirado em Patricia Highsmith, este é um thriller existencial protagonizado por Dennis Hopper e Bruno Ganz. O estilo noir se funde ao existencialismo europeu. A presença do cinema americano como força cultural se mistura com a angústia do indivíduo contemporâneo. Um filme tenso e introspectivo.


🎥 5. Paris, Texas (1984)

Temas: Redenção, silêncio, amor perdido, Estados Unidos míticoTalvez sua obra-prima. Com roteiro de Sam Shepard e trilha sonora de Ry Cooder, o filme retrata a jornada de Travis (Harry Dean Stanton) por um deserto físico e emocional. Um homem que retorna do silêncio para reconstruir laços familiares. A paisagem é quase bíblica, e o filme se transforma em uma elegia à vulnerabilidade humana. Um dos mais belos retratos do masculino ferido já feitos.


🎥 6. Der Himmel über Berlin (Asas do Desejo, 1987)

Temas: Espiritualidade, metafísica, memória, poesiaAnjos observam Berlim em preto e branco, ouvindo os pensamentos das pessoas. Um deles decide se tornar humano para experimentar o amor. Narrado por vozes interiores e citações poéticas (como Rilke), é um filme sobre ver, sobre tocar, sobre o desejo de experimentar a existência com plenitude. Obra-prima absoluta do cinema filosófico.


🎥 7. Bis ans Ende der Welt (Até o Fim do Mundo, 1991)

Temas: Futuro, memória digital, imagens, vício tecnológicoUma espécie de sci-fi poético e distópico, com forte crítica à dependência das imagens e à substituição da experiência real por simulacros. Um road movie global, atravessando continentes em busca de um dispositivo que grava os sonhos. Uma visão premonitória das nossas obsessões digitais. Mal compreendido à época, hoje é um cult.


🎥 8. Lisbon Story (O Céu de Lisboa, 1994)

Temas: Som e imagem, cinema dentro do cinema, saudadeO filme acompanha um técnico de som que vai a Lisboa procurar um amigo cineasta desaparecido. Uma bela homenagem ao cinema, ao som como meio de escuta do mundo e à cidade como personagem. Influenciado pela cultura portuguesa, inclusive por Fernando Pessoa e pelo fado.


🎥 9. Buena Vista Social Club (1999)

Temas: Música, memória, resistência culturalNeste documentário, Wenders registra a viagem de Ry Cooder a Cuba para reencontrar os velhos músicos que marcaram o bolero e o son cubano. Um retrato afetuoso e melancólico de uma geração que resistiu ao tempo e ao esquecimento, reacendendo a chama de uma cultura rica e pulsante.


🎥 10. Pina (2011)

Temas: Dança, corpo, luto, belezaHomenagem à coreógrafa Pina Bausch, com quem Wenders tinha uma longa amizade. Rodado em 3D, o filme explora o corpo em movimento, a relação entre espaço e expressão, o silêncio entre os gestos. Uma experiência sensorial que ultrapassa a tela e toca diretamente o espectador.


🎥 11. The Salt of the Earth (O Sal da Terra, 2014)

Temas: Fotografia, humanidade, dor planetáriaCo-dirigido com Juliano Salgado, é um retrato de Sebastião Salgado e sua missão de documentar o sofrimento humano e a beleza da Terra. Wenders se coloca como observador respeitoso, deixando que a fotografia fale por si. Um filme sobre ética, estética e planeta.


🎥 12. Perfect Days (2023)

Temas: Cotidiano, serenidade, simplicidadeUm dos mais recentes e belos filmes de Wenders. Acompanhamos um zelador de banheiros públicos em Tóquio, cuja rotina minimalista esconde uma vida interior rica. Um filme silencioso, tocante, sobre encontrar beleza nas pequenas coisas — quase um haicai cinematográfico.


🔹 A Filosofia do Olhar: o Legado de Wenders

Wim Wenders não é um diretor de respostas, mas de perguntas. Seu cinema é feito de silêncios significativos, longos planos contemplativos, personagens em trânsito e paisagens que falam mais do que diálogos. Em sua obra, a imagem é meio de transcendência. Ele é um dos grandes poetas da imagem moderna, cujo legado continua a ecoar na sensibilidade de cineastas como Jim Jarmusch, Richard Linklater, Claire Denis e tantos outros.


Sua filosofia do olhar não é apenas estética, mas ética: ver é compreender, e compreender é amar. Em um mundo saturado de ruído, Wenders nos oferece um espaço para escutar — ao outro, à paisagem, ao invisível.






🎬 Wim Wenders – O Cinema como Caminho


Entre o real e o imaginário, a obra de um cineasta nômade que fez da imagem um instrumento de pensamento, silêncio e beleza




Poucos cineastas conseguiram traduzir a beleza do silêncio, a poesia das estradas e a espiritualidade do olhar como Wim Wenders. Nascido em 1945, na Alemanha do pós-guerra, ele viu sua terra natal mergulhada na reconstrução física e emocional. Deste solo devastado, germinaria um dos olhares mais contemplativos e humanistas da história do cinema moderno.


Mais do que um diretor, Wenders é um pensador da imagem. Suas obras são atravessadas por personagens errantes, cidades em ruínas, paisagens que falam, e diálogos que mais silenciam do que explicam. Ele é o cineasta da ausência, da escuta, da pausa — e, sobretudo, do sentido que se encontra no caminho.


🛣️ A Estrada como Narrativa


Trilogia da Estrada e os anos formativos

Seu início no Novo Cinema Alemão ao lado de Fassbinder e Herzog foi marcado por uma inquietação estética: como filmar uma Alemanha em ruínas e uma humanidade em crise?


Wenders responde com sua Trilogia da Estrada, onde os personagens viajam não apenas geograficamente, mas também interiormente:

  • Alice nas Cidades (1974) – um jornalista e uma menina cruzam a Alemanha numa busca por pertencimento.

  • Movimento em Falso (1975) – o jovem Wilhelm viaja sem saber o que procura.

  • No Decurso do Tempo (1976) – dois homens solitários consertam projetores de cinema pelas vilas alemãs.

Cada filme é uma busca por significado no vazio do mundo contemporâneo, marcada por planos longos e uma fotografia que eterniza o tempo.


🌆 O Estrangeiro, a Imagem, o Amor


Paris, Texas (1984)

Talvez o mais aclamado de seus filmes, é uma elegia ao silêncio masculino e ao amor perdido. Travis, interpretado por Harry Dean Stanton, caminha no deserto texano em busca de reconexão. A câmera de Wenders observa sem pressa, respeita o tempo da dor. A trilha de Ry Cooder é uma extensão do deserto. E o roteiro de Sam Shepard carrega o peso da alma americana.


Asas do Desejo (1987)

Uma obra-prima espiritual. Anjos caminham por Berlim ouvindo os pensamentos dos humanos. Um deles quer experimentar o amor, o tato, a cor.Citado por Rilke e conduzido por uma estética lírica em preto e branco, o filme transcende a matéria. É poesia pura, transformada em imagem.


🛰️ Imagens do Futuro e o Vício em Ver


Até o Fim do Mundo (1991)

Um épico tecnológico em forma de road movie sci-fi. Um dispositivo grava os sonhos das pessoas, e as imagens se tornam droga.Wenders antecipa a obsessão contemporânea por telas, questionando: o que perdemos ao tentar registrar tudo?


🎶 Escutar o Mundo: os Documentários


Buena Vista Social Club (1999)

Registro amoroso dos músicos cubanos redescobertos por Ry Cooder. A música se transforma em resistência cultural contra o apagamento.


Pina (2011)

Homenagem à coreógrafa Pina Bausch, com danças filmadas em 3D. O corpo em movimento como linguagem poética. Uma experiência quase mística.


O Sal da Terra (2014)

Com Juliano Salgado, acompanha a jornada do fotógrafo Sebastião Salgado. Wenders aqui desaparece atrás da imagem, para deixar que o mundo fale. Ética e estética se entrelaçam.


🍃 A Simplicidade como Forma de Sabedoria


Perfect Days (2023)

Um zelador de banheiros públicos em Tóquio vive dias que se repetem — mas cada detalhe carrega plenitude.Wenders nos oferece um haicai visual: o cotidiano como arte, o silêncio como forma de escuta. O filme nos pergunta: precisamos de tanto para sermos felizes?


🌍 O Legado de Wim Wenders: Ver como Forma de Pensar

Wenders nunca foi um cineasta de grandes espetáculos ou efeitos. Sua lente se detém no mínimo, no invisível, no que há entre as palavras. Seus filmes nos convidam a olhar — e olhar com atenção é um gesto político, amoroso e filosófico.


Seus personagens não são heróis. São buscadores. Suas histórias não têm finais fechados. São passagens. O cinema de Wenders é trânsito, interlúdio, escuta.

Num mundo de excesso de imagens, ele nos ensina o valor da imagem essencial. Num tempo de velocidade, ele nos ensina a parar.Num tempo de ruído, ele nos ensina a ver em silêncio.




 
 
 

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