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Pré-Socráticos: Os Fundadores do Pensamento Ocidental

  • carlospessegatti
  • há 5 dias
  • 6 min de leitura
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Entre o mito e a razão: a busca pela origem do cosmos e do ser


“A Filosofia nasce do espanto.”— Aristóteles


O nascimento da Filosofia

Antes de Sócrates transformar a reflexão filosófica em uma investigação ética sobre a vida e a polis, os chamados Pré-Socráticos se dedicaram a um desafio essencial: compreender a origem de todas as coisas. Vivendo entre os séculos VII e V a.C., esses pensadores pioneiros deram o passo decisivo de romper com as narrativas míticas e buscar explicações racionais para a realidade.


Da água de Tales às partículas indivisíveis de Demócrito, encontramos o embrião da ciência, da cosmologia e da metafísica. Foram eles que abriram caminho para toda a tradição filosófica ocidental.


A Escola Jônica: a busca pelo arché

Tales de Mileto (624-546 a.C.)

Considerado o primeiro filósofo da tradição ocidental, Tales afirmava que a água era a substância primordial do universo.


“Tudo está cheio de deuses.” — TalesEssa frase revela como a sua visão não excluía a dimensão espiritual, mas buscava conciliar natureza e divindade.

Anaximandro de Mileto (610-547 a.C.)


Discípulo de Tales, Anaximandro foi o primeiro a formular a ideia de um princípio indeterminado, o ápeiron (o infinito), como origem de tudo. Com ele nasce o pensamento abstrato, a noção de algo além do sensível.

Anaxímenes de Mileto (588-524 a.C.)


Para Anaxímenes, o princípio não era a água nem o indeterminado, mas o ar. Ele via o cosmos como uma respiração, uma animação invisível que sustentava a vida.


A Escola Pitagórica: harmonia e número

Pitágoras de Samos (570-495 a.C.)

Pitágoras fundou uma comunidade filosófico-religiosa onde a matemática se tornava linguagem universal.


“Tudo é número.” — PitágorasPara ele, a harmonia do cosmos podia ser compreendida pela relação matemática entre sons, astros e seres. Sua influência ecoa até hoje na música e na ciência.


Heráclito e Parmênides: o devir e o ser

Heráclito de Éfeso (540-470 a.C.)

Chamado de “O Obscuro”, Heráclito via o mundo como movimento e transformação.


“Ninguém entra duas vezes no mesmo rio.” — HeráclitoPara ele, o fogo simbolizava esse fluxo constante, o devir que sustenta a realidade.


Parmênides de Eléia (515-450 a.C.)

Em oposição a Heráclito, Parmênides defendia que o ser é uno, imutável e eterno. Considerava o movimento uma ilusão dos sentidos. Essa tensão entre o devir e o ser tornou-se central na Filosofia.


Empédocles, Anaxágoras e os Atomistas

Empédocles de Agrigento (490-430 a.C.)

Unificou as ideias anteriores propondo os quatro elementos — terra, água, ar e fogo — regidos por duas forças: o Amor (união) e o Ódio (separação).


Anaxágoras de Clazômenas (500-428 a.C.)

Introduziu o conceito de Nous (Mente ou Inteligência Cósmica) como princípio ordenador do universo.


Leucipo e Demócrito (460-370 a.C.)

Criadores do Atomismo, afirmavam que a realidade era composta por partículas indivisíveis, os átomos, movendo-se no vazio. Uma visão surpreendentemente moderna, precursora da Física contemporânea.


O legado dos Pré-Socráticos

Os Pré-Socráticos fundaram uma nova forma de pensar: a Filosofia como busca racional. Cada um deles tentou responder à pergunta fundamental: qual é a origem de tudo?


O que permanece é a ousadia de substituir o mito pela razão, e de abrir o pensamento humano para horizontes infinitos.


“Não devemos temer a morte, pois, enquanto somos, a morte não é; e, quando a morte é, nós não somos.”— Demócrito


Quadro-Resumo: Ideias Principais dos Pré-Socráticos

Filósofo

Princípio (Arché)

Ideia Central

Tales

Água

Origem de todas as coisas está na água.

Anaximandro

Ápeiron (infinito/indeterminado)

Tudo surge do ilimitado.

Anaxímenes

Ar

O ar é a respiração vital do cosmos.

Pitágoras

Número

A harmonia do mundo é matemática.

Heráclito

Fogo/devir

Tudo flui, nada permanece.

Parmênides

Ser

O ser é único, eterno e imutável.

Empédocles

Quatro elementos

Amor e Ódio regem a mistura dos elementos.

Anaxágoras

Nous (Mente cósmica)

Inteligência ordena o cosmos.

Leucipo/Demócrito

Átomos e vazio

A realidade é feita de partículas indivisíveis.




Agora vamos detalhar a obra de cada pensador individualmente.


Hoje falaremos sobre os dois primeiros, Tales de Mileto e Anaximandro


Tales de Mileto: A Água como Origem de Tudo

O primeiro filósofo do Ocidente e o nascimento da razão

“Tudo está cheio de deuses.” — Tales de Mileto


O pensador que inaugurou a Filosofia

Tales de Mileto (624-546 a.C.) é considerado, pela tradição, o primeiro filósofo ocidental. Nascido na próspera colônia grega de Mileto, na Ásia Menor, destacou-se não apenas como pensador, mas também como astrônomo, matemático, engenheiro e político.


A grandeza de Tales está em ter dado o passo inicial de explicar o mundo sem recorrer aos mitos, buscando uma causa natural para os fenômenos. Assim, ele rompeu com a narrativa mítica e inaugurou a razão filosófica.


A água como arché

Tales acreditava que a água era o princípio (arché) de todas as coisas. Essa escolha não era aleatória: a água é indispensável à vida, está presente em múltiplas formas (líquido, sólido, vapor) e se mostra como elemento capaz de gerar, transformar e sustentar a realidade.


“Tudo é água.” — Tales de Mileto

Com essa proposição simples, Tales iniciou a busca pelo fundamento único que dá origem à multiplicidade do mundo. A partir daí, todo o percurso filosófico passou a girar em torno da pergunta: qual é o princípio do ser?


Tales e a ciência nascente

Além de filósofo, Tales destacou-se por feitos que revelam o espírito científico nascente:

  • Previu um eclipse solar em 585 a.C.

  • Calculou a altura das pirâmides do Egito observando a sombra projetada pelo Sol.

  • Ensinou a navegação guiada pelas estrelas da Ursa Menor.

Essas realizações mostram que ele não apenas especulava, mas aplicava seus conhecimentos na vida prática, unindo filosofia, ciência e técnica.


Filosofia e espiritualidade

Apesar de seu racionalismo pioneiro, Tales não rompeu totalmente com a espiritualidade. A célebre frase “tudo está cheio de deuses” sugere que ele via a natureza como animada, dotada de força vital. Assim, seu pensamento está numa transição entre o mítico e o racional.


O legado de Tales

Tales lançou a pergunta inaugural da Filosofia: de onde viemos, qual a origem de tudo? A resposta que deu — a água — pode parecer limitada hoje, mas seu mérito está em ter buscado uma explicação racional e unificadora.


“A Filosofia nasce do espanto.” — Aristóteles


Foi esse espanto diante da realidade que levou Tales a abrir o caminho para o pensamento filosófico e científico do Ocidente.


Quadro-Resumo: Tales de Mileto

Aspecto

Detalhe

Período

624-546 a.C.

Cidade

Mileto (Ásia Menor)

Arché

Água

Principais feitos

Previsão de eclipse, cálculo de pirâmides, navegação astronômica

Ideia central

A realidade possui um princípio único: a água




Anaximandro: O Ápeiron e o Infinito

O filósofo que pensou além do sensível e abriu caminho para a abstração

“O princípio dos seres não é a água, nem nenhum outro dos chamados elementos, mas uma substância diferente, infinita.” — Anaximandro


Vida e contexto

Anaximandro de Mileto (610-547 a.C.) foi discípulo e sucessor de Tales, mas sua ousadia o levou a ultrapassar os limites estabelecidos pelo mestre. Viveu na mesma Mileto florescente, centro comercial e cultural da Jônia, onde a filosofia nascente buscava compreender o cosmos em termos racionais.


Além de filósofo, Anaximandro foi astrônomo, cartógrafo e político, tendo traçado um dos primeiros mapas conhecidos do mundo habitado.


O Ápeiron: o infinito como origem

Se Tales buscava um princípio material (a água), Anaximandro deu um salto abstrato: concebeu que o fundamento de todas as coisas não poderia ser algo determinado, mas sim o ápeiron — termo que significa ilimitado, indefinido, infinito.


Esse princípio eterno, imortal e inesgotável seria a fonte de onde todas as coisas surgem e para onde retornam.


“De onde as coisas têm origem, para lá também devem perecer, segundo a necessidade, pois pagam umas às outras o castigo da injustiça.” —


Anaximandro


Essa frase, fragmento preservado, mostra que o cosmos não é caótico: existe nele uma ordem de justiça e equilíbrio.


Contribuições científicas

  • Astronomia: foi o primeiro a sugerir que a Terra é um corpo suspenso no espaço, sem necessidade de apoio.

  • Cosmologia: concebia o cosmos como uma esfera com múltiplos círculos concêntricos (o Sol, a Lua e as estrelas).

  • Geografia: desenhou um dos primeiros mapas-múndi, ampliando a visão grega do mundo habitado.


O salto filosófico

Anaximandro é o primeiro a pensar o princípio não como um elemento sensível, mas como algo abstrato e indeterminado. Isso representou um avanço decisivo: a Filosofia deixou de procurar apenas no mundo natural um fundamento, abrindo espaço para conceitos que ultrapassam a experiência imediata.


O legado de Anaximandro

Com o conceito de ápeiron, Anaximandro foi o primeiro metafísico da história. Sua ousadia abriu caminho para que a Filosofia se tornasse também uma investigação do abstrato e do infinito, indo além da natureza visível.


“O infinito é a fonte de todas as coisas.” — Parafraseando Anaximandro


Quadro-Resumo: Anaximandro de Mileto

Aspecto

Detalhe

Período

610-547 a.C.

Cidade

Mileto (Ásia Menor)

Arché

Ápeiron (infinito, indeterminado)

Principais feitos

Primeiro mapa-múndi, ideias astronômicas, noção de Terra suspensa

Ideia central

O princípio é ilimitado e eterno, origem e fim de todas as coisas





 
 
 

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